Após Herzog, outras vítimas da ditadura podem ter novo atestado

21/05/2022

O ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles, membro da Comissão Nacional da Verdade, confirmou nesta terça-feira(25/09), no Rio de Janeiro, que a decisão da mudança do atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog, partiu da própria instituição.


"Por unanimidade, nós deliberamos que diante de um quadro evidente de que ele foi assassinado nas dependências do Estado, pelo serviço policial da repressão, oficial na época, e embasado por provas eloquentes, nós deliberamos, para provocar o Poder Judiciário, por meio dos juízes de registros públicos, para que fosse sanada aquela gravíssima omissão. E fizesse constar que esse digno brasileiro morreu vítima da violência arbitrária", disse Fonteles.


A mudança atingirá todos os que foram mortos pela ditadura, assegurou o ex-procurador. "Todos. Criamos o que se chama em direito do precedente prudencial. E todos, agora, podem seguir essa linha. Acho que foi um ponto altamente positivo".


A comissão não sabe, entretanto, quantos presos políticos poderão ser beneficiados. Fonteles ressaltou que isso vai depender muito dos parentes das vítimas. "Eles sabem. É muito fácil para todos nós. Procurem a comissão, apresentem o quadro, como fez Clarice Herzog e seu filho, e aí, pronto. Já temos o procedente e, imediatamente, andamos".


Fonteles participou da audiência pública Memória e Verdade, organizada pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Rio de Janeiro (Prdc-RJ). Indagado se o médico-perito que assinou o atestado de Herzog à época, Harry Shibata, poderia ser acusado de crime de falsa perícia, esclareceu que, criminalmente, o fato prescreveu. "Tem mais de 70 anos, a prescrição conta pela metade".
Ele declarou que o Brasil, "lamentavelmente, no direito penal, ainda é um País que estimula muito a impunidade". Para Fonteles, crimes graves não deveriam prescrever nunca. "Reitero isso fortemente. Crimes graves não podem prescrever".


Admitiu que a comissão já está investigando também os empresários que financiaram a ditadura. Mas não quis adiantar detalhes. "Posso dizer só isso: já temos alguns documentos para montar o quadro. Mas deixa a gente trabalhar um pouquinho mais. Nada será oculto". Previu que haverá novidades para relatar mais para o final do ano.


Em resolução publicada na edição do Diário Oficial da União do dia 17 de setembro, a comissão decidiu apurar os crimes cometidos pelo Estado durante a ditadura militar, restringindo as investigações aos crimes cometidos por agentes públicos ou a serviço do Estado. A resolução indica, portanto, que supostos crimes atribuídos a opositores do regime ditatorial, que vigorou no Brasil de 1964 a 1985, não serão alvo de análise. De acordo com a assessoria de imprensa da comissão, a decisão atende a regras já previstas em lei e em acordos internacionais em que o Brasil é signatário.


A comissão concluiu que a queima de documentos e atas referentes ao período da ditadura pelos militares foi ilegal, oficiou a decisão ao Ministro da Defesa, Celso Amorim, para que os comandos militares se manifestem, o que não ocorreu até agora. Embora exista um crime no ato cometido, Fonteles ponderou que uma apuração de culpabilidade remeteria aos comandantes anteriores, que atuavam à época da ditadura, e não aos atuais.


Vladimir Herzog
O jornalista foi morto em 1975, durante a ditadura militar. Atendendo a um pedido da família de Herzog, a Comissão da Verdade da OAB solicitou ao Juízo de Registros Públicos de São Paulo que no documento conste que a morte dele decorreu de "lesões e maus tratos sofridos durante interrogatório em dependência do 2º Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi)" e não por asfixia mecânica, como está no laudo necroscópico e no atual documento de óbito.
Fonte: www.terra.com.br

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