Verdade e Memória: Laly Carneiro relata a sua luta pela democracia

06/11/2014

O vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte, Marcos Guerra, e o presidente da Comissão da Verdade e Memória da OAB/RN, Djamiro Acipreste, fizeram a abertura do V Ato do Ciclo Verdade e Memória na tarde de hoje (05), na sede da Seccional Potiguar,  com o depoimento de Laly Carneiro, primeira mulher presa no Estado pelo regime militar. Na ocasião, Laly falou um pouco de sua história e da defesa da democracia para estudantes e advogados.

Confira alguns dos temas abordados em seu depoimento:

FAMÍLIA

Minha mãe sabia de tudo, mas não participava. Nunca me proibiu de sair de casa até porque ela queria estar no meu lugar, mas não podia.

PRISÃO

Lutei pelo processo democrático por acreditar que todo cidadão merece a valorização do trabalho. Fiz parte do grupo de estudos Ação Popular em que a ideologia era a participação do homem em sua formação, mas, naquela época, isso significava  ser comunista.  Fui presa dentro da sala de aula, no curso de medicina, punida por querer mudar o sistema. Levaram-me para o 16 RI em Natal. Apenas os professores Lavosier e Leide Morais foram ao Quartel dizer o que pensavam de mim. Fui vítima de tortura moral, mas não física.

Na época, foi proposto meu encaminhamento de prisão para um convento, mas preferi ficar no 16 RI. Eram 400 homens e sem acomodações para mulher. Outras mulheres ficaram presas depois, como a secretária da campanha de pé no chão também se aprende a ler, Mailde Pinto, e a professora Diva Maria.

UFRN

Depois de presa, tive minha matrícula na Universidade Federal trancada. Não tive o apoio da  minha instituição de ensino. Os professores não queriam falar comigo nas ruas. Sentia-me sozinha e marginalizada. Meu advogado Otto Guerra foi quem me fez voltar à faculdade, me apoiou e ajudou em uma fase importante da minha vida, sem ele eu não estaria aqui.

EXÍLIO

Cheguei a Paris no inverno, em um dia de chuva. Foram muitas as restrições e terrorismo. Uma vez por semana os exilados se encontravam para saber notícias do Brasil. Chegava o número de mortos pela luta, mas não se sabia a veracidade das informações. Tínhamos a esperança de voltar para o nosso país. Na França, tive o apoio de amigos e de entidades religiosas.

Como parte da Campanha pela Memória e pela Verdade, lançada em 2010, com foco na abertura dos arquivos da repressão política da ditadura, a OAB/RN criou em 2012 a sua Comissão da Verdade. O objetivo é reunir elementos sobre o papel da Justiça Militar no esquema repressivo da ditadura e os abusos. Todo material será encaminhado à Comissão Nacional da Verdade, criada pelo governo federal.

Depoimentos:

I Ato - jornalista norte-riograndense  Dermi Azevedo (ex-preso político e um dos fundadores do Movimento Nacional de Direitos Humanos/MNDH), dos advogados Paulo Francinete e Roberto Furtado;

II Ato - Juliano Siqueira e Zé Rodrigues;

III Ato -  Meri Medeiros e Antônio Capistrano;

IV Ato -  Luiz Alves;

V Ato – Laly Carneiro.

Veja mais fotos AQUI.

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