A advogada Luciara Freitas, que recebeu na manhã desta sexta-feira (20), dia da Consciência Negra, durante a solenidade de entrega de carteira da OAB/RN, uma homenagem da Seccional Potiguar por sua atuação na advocacia.
Na oportunidade, Luciara discursou sobre a sua experiência de vida e luta por um país mais igual.
Confira o discurso de Luciara Freitas:
Nesta manhã de novembro, no dia da Consciência Negra, e isso definitivamente não é uma coincidência, recebo a homenagem de falar às novas advogadas, advogados, estagiárias e estagiários.
E o que oferecer neste manhã? Com que brindar?
Bem, ofereço o trivial. A MINHA HISTÓRIA.
Mulher, Negra, Nordestina, Moradora da Periferia de Ceará-Mirim e Funcionária Pública dos Correios.
Bem, lhes trago o conceito de interseccionalidade de Kimberle Crenshaw:
“A interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças etnias, classes e outra.”...
Portanto, sou um tributo aos eixos de subordinação: mulher, subordinada ao homem, negra ao branco, nordestina ao sudeste, da periferia aos condomínios e do interior em relação a capital.
Segundo o grande Darcy Ribeiro, na vida existe duas escolhas: “Se resignar ou se indignar”. Pois bem, não me resignarei nunca.
Indignar todos os dias e me opor às injustiças fazem parte de mim como esse cabelo, essa cor da pele.
Não podia ser outra coisa senão advogada;
Não podia militar senão, na comissão de Direitos Humanos;
Não podia empunhar senão, a bandeira da Ordem.
O que vimos em Paris há exatos sete dias foi um brinde a insensatez humana, dos terroristas... (terrorista não quer dizer Árabe, Religiosos ou Mulçumanos), terrorista quer dizer aquele que usa do terror;
Mas também a igualmente insensatez da Europa e América do Norte que apoiam os tiranos sanguinários para manter seus interesses na África, Oriente Médio e Ásia...
O radicalismo e o fundamentalismo religiosos são filhos do casal Exploração e má distribuição de renda, tendo como irmão mais velho o desrespeito às culturas não europeias e norte-americanas.
Ontem em Brasília ocorreu a Marca das Mulheres Negras, manifestação pacífica que acabou com várias mulheres agredidas por policiais ou por manifestantes do movimento pró-impeachment que portavam armas de fogo.
Estão querendo ocidentalizar o mundo, como se isso fosse o sonho do mundo;
Estão querendo “embranquiçar” o carnaval, com rainhas de carnaval da rede globo, sem saber a realidade do morro, brancas como se fossem o sonho do samba;
Por último, olhamos para Paris, com seus 129 mortos, indignados, mas totalmente silenciados pelos 400 desaparecidos de Marina e região com os estouros de duas barragens de detritos.
A mídia no Brasil deve ser regulamentada e democratizada para que possamos experimentar novos tempos...
Sem a caricatura do negro na TV, ou do Evangélico ou do homossexual.
O direito e sua magia estão em garantir nesta sociedade todas as cores, todas as formas, todos os amores.
Que cada um seja julgado por seus valores morais, não por seus pertences, e que cada um e todos nós possamos fazer parte deste país...
Um país de todas e todos, para todas e todos e construídos por todas e todos!
Façam desta profissão um sacerdócio, desta carteira um escudo, de sua voz a defesa dos apequenados em relação ao poder que pensa poder tudo.
Rua Nossa Senhora de Candelária, 3382 - Candelária - Natal/RN - CEP 59065-490 • Telefone (84) 4008-9400